Ao som de "Tears in Heaven", Eric Clapton
Quando criança, sempre me impressionava com a potência das forças da natureza.
Imaginar que algo tão simplório quanto a água, o vento, o fogo e a terra pudessem causar tanto estrago ou serem vistas de maneira tão impressionante era simplesmente estranho para minha cabeça infantil, mas não menos mágico e divino!
Crescendo, entendi que não eram esses elementos que importavam para um fenômeno de nível catastrófico, mas sim um conjunto de fatores que ajudam a montar o cenário CAOS: ação física + reação química + situação que proporcione o fenômeno. Mas concorda comigo que é menos mágico quando lido ou pensado desse jeito?
Gostaria de conseguir manter a mágica!
Certa vez, na quinta série, uma professora estava explicando esses fenômenos, de maneira simples para crianças de 12 anos entenderem, e disse que "as forças da natureza não param de agir nunca, indo de um lado para o outro no mundo".
Curiosamente naquele mesmo dia (e em todos os outros dias para a frente), vi uma força da natureza em atuação na minha frente: era mamãe!
Mamãe estava assistindo Tv enquanto passava roupa, levantando de minuto em minuto para danar com o cachorro, mexer em alguma coisa na cozinha e olhar o que meu irmão e eu estávamos fazendo; depois, enquanto supervisionava nosso dever de casa, arrumava o lanche e já deixava a janta semi-preparada, pois dali algumas horas iria para a escola.
Pensando com cuidado, todos os dias era a "mesma rotina": fazer tudo e cuidar de tudo para todo mundo de casa, e algumas vezes fora de casa também, com a maior qualidade que ela conseguia imprimir.
Mesclava suas reações entre a alegria e a braveza, rindo de algo que eu não entendia ou gritando um comando pela terceira vez, já pegando a chinela para acertar no filho desobediente da vez.
De quando me entendo por gente, até meados de 2018, foi do mesmo jeito: uma potência quase incansável, disponível e disposta para nós como era necessário, com suas qualidades e defeitos sempre muito à mostra, sem medo de ser e sem vergonha de se moldar.
Analisando hoje, é divertido entender a associação da criança sobre um aprendizado específico.
Mas minha professora estava enganada; algumas forças da natureza cessam suas atividades.
Vi mamãe ir parando. Não por vontade própria, mas sob o peso da doença, que foi apagando cada traço de personalidade e vigor que deixaram nítido, outrora, a potência que ela era em vida.
Minha crença e fé me levam a entender que tudo tem um motivo e que as situações que não podemos controlar servem para nosso aprendizado... curiosamente crer e sentir são instâncias diferentes aqui dentro.
Pelos últimos meses busquei seguir vivendo, mantendo minhas atividades da maneira como eram (e talvez exagerando algumas, para tamponar certas dores; a senhora teria me xingado), mas tudo parece ser feito meio em câmera lenta, como se eu estivesse andando em uma piscina...
Gostaria de não preocupa-la do lado daí (espero não estar).
Vou continuar admirando a "magia" da ventania, dos terremotos e das tsunamis, sabendo que nenhuma dessas forças se comparará à sua e consciente de que depois de tanto poder espargido, já estava na hora de realmente você descansar.
Obrigado até aqui, mamãe! Feliz Aniversário!
(explícito na totalidade)
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