Pular para o conteúdo principal

Suborno Vs Reconhecimento


Ao som de "Unimultiplicidade",  Ana Carolina

Conversando com meu amigo ontem (eu "mais pra lá do que pra cá" de cansaço mental), comentávamos sobre a festa de aniversário dele: os pontos positivos, os pontos negativos, os pontos positivíssimos (rs)... eu praticamente só escutava porque estava sem muito em mente (o cansaço realmente era muito grande). Eis que, durante sua fala, quase um monólogo, ele me diz:


- Sabe Evérto (é assim que ele me chama), no di-dia (ele é um pouco gago) do meu aniver-versário, eu pedi pra do-dona ... (sigilo) para fazer um praato bem grande de churraasco e pão de alho assado e fui ali no quartel levar proos policiais."

- Uai, pra quê?

- Po-porque eu conheço um deles... e-ele fez Karatê comigo. Ai eu fui lá procurando por ele (O-o Cabo ... tá aí? É que eu vim dei-deixar esse prato de chu-churrasco pra ele e pra vocês). E-eles são bacanas. Ai a gente ficou até 3 da ma-manhã com música, de boa...

- Isso é suborno. - disse entre um riso e outro.

- Nã-não é suboorno. É um re-reconhecimento do trabalho que eles estão faazendo. O quarteirão está mais tranquilo...


Ri um pouco mais e continuamos falando sobre outros assuntos até eu voltar pra casa. Mas permaneceu este incômodo.

Todos sabem que, tirando os locais com alvará e permissão concedida antecipadamente, é proibido qualquer tipo de ruído acima de 45 decibéis a partir das 22 até as 7 da manhã (Dec. Lei 292/2000, de 14 de novembro, art.° 10.° do Código Civil). Todos sabem também, com as devidas exceções, que policiais são profissionais arrogantes e cheios de pompa quando o assunto é tentar manter a "ordem", usando grande parte das vezes de métodos estúpidos, brutos e pouco eficazes.

Contudo, sem querer levantar a questão de eles terem moral suficiente pra fazer isso apenas por serem profissionais, questionei-me o tempo todo se o fato de terem deixado um tanto de adolescentes e jovens adultos continuarem a algazarra sem falar nada, nos fundos de uma casa, atrapalhando os vizinhos com crianças pequenas e velhos, não estaria diretamente ligada ao fato de meu amigo ter dado um "presentinho" para eles.

Que dentro da polícia (Civil, Militar e Federal) há corrupção, isso não é dúvida pra ninguém, nem para quem gosta de "tapar o sol com a peneira". Contudo, me alertou para o fato de que os grandes crimes e calamidades começam com pequenos atos. Aceitar o churrasco como paga ao "não perturbe minha festa" é apenas o inicio para os subornos nos casos dos tráficos, liberação ao tráfico e outros delitos ainda maiores.

Ora, cumprir com a Lei não é o dever deles enquanto profissionais? Não deveriam eles, mesmo recebendo um agrado, ter chegado e pedido para o volume da música ser diminuído para não atrapalhar os demais moradores da vizinhança?

Meu amigo não teve intenção consciente de subornar os policiais no Batalhão ao lado da casa dele, mas foi o que aconteceu subjetivamente e, mesmo que fosse uma atitude de puro reconhecimento e gratidão pela segurança e tranquilidade que o quarteirão vivia, novamente os mesmos não deveria m aceitar senão as palavras de agradecimento, pois que não faziam mais que o seu dever em manter a segurança da população; presentes (mesmo que churrasco) deveriam ser dispensados (ou aceitos sem comprometer o juízo do dever a ser cumprido).

Para mim, em termos gerais, houve suborno, mesmo que subjetivo, da parte do meu amigo, como também em outras situações já fiz o mesmo e acredito ser necessário mudar desde que isso chegue à consciência, pois como cobrar dos políticos e lideres se fazemos o mesmo em escala menor?!


(Diário explícito. Não há revolta ou moralismo neste post, caso seja isto que você que me lê esteja pensando. Apenas um momento de reflexão. Para tanto, deixo aberta a discussão e peço que opinem a respeito)

Comentários

Breno disse…
Como é bom e vergonhoso ler isso após tanto tempo!

Postagens mais visitadas deste blog

Aparências

Ao som de "Óculos", Os Paralamas do Sucesso Local: Praça da Liberdade, Belo Horizonte-MG Situação: Aguardando o semáforo de pedestre abrir para atravessar a rua. Motivo: Possivelmente Jesus testando minha paciência. Naqueles idos 2013 eram tão raras minhas noites de folga que quando aconteciam era certeza de eu não ficar em casa. Atualmente eu fico em casa por necessidade de guardar dinheiro e da pandemia, obviamente (rsrsrs). Mas aquele dia específico de 2013 foi bastante curioso. Estávamos em maio, e tenho certeza por ter passado alguns dias da comemoração para as mães. Cheguei à "Liberdade" com o livro que me entretinha à época, uma garrafa de suco de amora com maracujá e dois sanduíches naturais feitos por mim mesmo (sim, estava de dieta na época; precisando voltar à ela, inclusive :/) Pausa para receita esperta se estiver de dieta (algo me diz que Brenikito quererá saber a receita...): Para os sanduíches: Faça um creme com ricota temperad

(entre)Caminhos

Ao som de "Runaway", The Corrs E conhecer-te é transcorrer letras e palavras não estranhas, e perceber que o que sentes é o que sinto (por pessoas diferentes até quando?)... Não sinto medo deste percorrer. Queria ir mais rápido e veloz por esta estrada de letras-sorriso e sentimentos-olhares  e te encontrar por entre as exclamações e seguir contigo para um final feliz. Me deixa guiar-te pelas virgulas e interrogações que possam se nos apresentar? E entender-te é entregar-me de pensamento, sentimento e corpo para que modeles como quiser e, quem sabe, ter um amor só seu para gostar e eu ter um amor só meu para voar e termos um amor só nosso para viver... E desejar-te, infelizmente, parece apenas um sonho do qual não quero acordar agora, pois que traz um sorriso em meus lábios e uma esperança em meu coração... Mas querer-te, mesmo que a realidade me esmague as intenções, é ser um pouco mais feliz e perceber que isto nunca mudará, pois que mais que com imagen

Hoje eu só queria um abraço

Ao som de "Esconderijo", Sandy Leah Hoje eu queria um abraço... Um que fosse sem tempo ou lugar determinado; Daqueles sem segundas ou outras intenções que não o encontro com outro abraço... Um abraço que pudesse acalentar meu coração descompassado Ou quem sabe confortar meu medo insensato (será?) Talvez até um abraço que dissesse "não se preocupe, que estou com você"! Mas abraços assim não se encontram nas esquinas Ou sequer são vendidos nas mercearias... Não! Esse tipo de abraço deve ser ofertado... Vir do fundo do coração - ou da boa intenção - de quem se dispõe a abraçar. Pedir tiraria todo o sentido do encontro, ou mesmo o prazer da surpresa de um abraço bem dado. Um abraço tem que ser conquistado! Tem que ser dado como se se quisesse tocar os corações pelo lado de dentro Enquanto se sente o calor e o toque do outro abraço que te envolve o corpo, como se fosse seu conhecido de longos anos... E mesmo sabendo tudo