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Afinidade


Ontem me deparei com uma pessoa de quem não gosto (e incrivelmente me surpreendi em perceber e aceitar que não gosto dela) e, no incomodo característico das almas que questionam a si mesmas e tentam se descobrir numa autoanálise, queria, por tudo na vida, entender esse processo de gostar e não gostar de alguém que, em tese, não tem nada a ver com minha vida.
A principio, novamente me doendo profundamente, constatei que a pessoa em si tinha diversas qualidades das quais eu sou desprovido ou que tenho em menor escala; imediatamente comecei a repassar todas as minhas qualidades, principalmente aquelas que ilusoriamente acreditava que a pessoa em questão não teria (não podia me autoflagelar assim sem um curativo ou remédio consciencial para amenizar a dor).
Em seguida (e talvez essa seja a tarefa mais difícil) passei a me perguntar por que não gostava dessa pessoa. Ora, eu nunca convivi verdadeiramente com ela e os contatos que tive foram em momentos de euforia, aos quais todos estamos sujeitos a dizer bobagens; também, não tenho nada contra ela ou o que quer que ela faça (ou contra alguém da família, ou o trabalho que exerce, os as pessoas com quem convive...), nada que realmente justifique, nesta vida, a falta de afinidade!
Finalmente, percebi o inevitável: me deixei levar pelas aparências; fui superficial!
Se conseguisse descrever em palavras a minha sensação, acho que seria a de desespero por estar saltando, sem bang jump, no Grad Cannion... o mundo desapareceu sob meus pés e passei a vagar pelo espaço da minha vergonha, sem rumo certo!
Talvez quem não me conhece, não entenda como isso possa ter me afetado tanto! contudo, desde que me entendo por gente, tenho apreendido, compreendido e vivido de maneira a tentar dominar minhas más tendência, ser melhor do que sou e evoluir cada dia um pouquinho (mesmo que esse pouco seja bem pouco, quase um grão de areia. Ainda assim, é evolução). Vindo de uma família de classe média baixa, sempre tive que ajudar meu pai no trabalho, ajudar em casa com a organização no que era necessário, tirar boas notas nas escolas (todas públicas, graças a Deus), me dedicar o máximo que conseguisse no que queria fazer, economizar e várias outras situações que a vida me colocava.
Sempre convivi com todos os tipos de pessoas e me achava imune à doença da superficialidade, abraçado a um corpo doutrinário que tem por base a caridade e o conhecimento de si como condições expressas para a felicidade plena (Espiritismo); entendo em teoria e tento com todas as forças praticar a caridade como entende e pratica Jesus (benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas); me formei em uma ciência que tem por base o autoconhecimento humano para a organização do espírito imortal que somos (Psicologia); me dedico na compreensão do ser e na vivência para conseguir me sentir bem...
Talvez esse breve relato da minha vida possa dar uma noção da minha vergonha ao perceber que ainda estou muito abaixo do grau evolutivo que gostaria de estar (não pretendendo ser como Chico Xavier, ou Tereza de Caucutá, ou Gandhi, ou Luther King, ou qualquer outro grande nome que tenha sido um exemplo de vida verdadeiramente cristã, independente da religião ou da politica que abraça - sugiro que os leitores entendão conduta cristã como algo que modifica a estrutura do pensamento e do comportamento, muito mais que uma forma piegas de religiosismo, pois não era esse o intento do Cristo.) e me deixo levar por sentimentos e atitudes menores... pra mim isso doi muito.
E depois de refletir e sofrer o necessário para continuar a caminhada, lembrei da frase de Jesus, sábia como todas elas, que diz "Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa; se alguém vem obrigar-te a andar 1000 passos com ele, anda 2000..." (Mt, 5:40-41). Para mim esta máxima, que está no Sermão da Montanha, na parte que fala sobre amar os inimigos, é o maior ensinamento sobre convivência e renuncia...
É preciso ser muito maduro para renunciar a si e considerar os próprios erros; é preciso ser muito seguro para tentar um relacionamento com o outro, mesmo acima das suas percepções ilusórias e considerações infantis; é preciso muito de nós para aceitar o outro como ele é, e como Jesus, abençoar e amar!
Não digo que vou conseguir seguir Jesus imediatamente, mas posso afirmar que não me sinto mais incomodado ao lembrar da pessoa em questão, com quem não me afiniso, porque embora saiba das divergências espirituais que possam nos cercar ou dos nossos conflitos de vidas anteriores, tenho certeza que tudo isso deve ser ajustado nessa vida (e nas proxímas, caso não consiga me entregar de mente e espírito à reforma de mim mesmo), aceitando-a e tentando conviver e perceber o quão importante ela é no plano da criação, o quanto posso aprender e o que ela tem de melhor para oferecer! Assim, a falta de afinidade será transformada em afinidade; o ruim não importa, nem o meu e muito menos o dela...

Comentários

César disse…
Poxa, bacana esse texto e o seu blog também viu?
parabéns,rsss
Anônimo disse…
mto bom comentario, encluzive seu blog, ficou mto shou, parabéns!!!!

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